quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O futuro das religiões

Fonte: Genizah



Johnny Bernardo
Há um processo em desenvolvimento, uma nítida adaptação religiosa, secular. Vivenciamos um período em que tudo passa rapidamente, como a tecnologia e a própria religião. Nada é exatamente estático, intocável, imutável. Os recentes pronunciamentos do papa Francisco, em que dá sinais de uma possível mudança ou inclinação à Pós-modernidade, por parte da Igreja Católica é um claro sinal de que as religiões passam por um processo de mutação, de conformação com a sociedade. O Estado pontifício não mais detém o mesmo poder do período medieval, ou mesmo da Idade Moderna, a exemplo do que ocorre em um pequeno país, menor da América do Sul, chamado Uruguai.
O Uruguai, oficialmente chamado de Republica Oriental do Uruguai, possuí uma população de 3,5 milhões de pessoas, das quais 1,5 milhões vivem em Montevidéu e região metropolitana. Mas o que há de especial em um país cuja população é quase quatro vezes menor do que a do município de São Paulo? A resposta está no fato de que o Uruguai possui uma das políticas mais liberais do continente. Apesar de contar com 47% de católicos a Republica do presidente e ex-guerrilheiro Mujica, possui um histórico de processos liberais, como a aprovação do divórcio (1907), o voto feminino (1927), o aborto com até 12 semanas de gestação (2012), o casamento homoafetivo e a legalização do uso da maconha (2013). A eutanásia também é uma pauta a ser discutida.
Não obstante a presença de diversas religiões no País, o laicismo é um tema levado a sério. Há restrições ao ensino religioso (foi regulamentado há mais de um século); são proibidos símbolos religiosos em hospitais e demais repartições públicas; não há capelães nas Forças Armadas; o casamento religioso não é reconhecido pelo Estado; não há feriados religiosos e o Dia de Reis é chamado de Dia das Crianças e o Natal é conhecido como o Dia da Família. Apesar de reconhecidamente laicos, os Estados Unidos e o Brasil ainda possuem resquícios da influência religiosa, como a presença de crucifixos em tribunais, câmaras e assembleias legislativas. Há de se acrescentar o fato de que as discussões políticas também são influenciadas pela religião.
O Uruguai é, portanto, um exemplo de pais cuja política supervaloriza o secular, o laico, em detrimento ao religioso. Não é a fé propriamente o foco do governo, mas a laicidade do Estado, das instituições públicas. A religião, por outro lado, tende a ceder às tendências sociais, como o verificado em algumas igrejas protestantes históricas (nos Estados Unidos e na Europa ocidental), como na Igreja Metodista, Presbiteriana, Anglicana. No Brasil, a ordenação das duas primeiras evangelistas pela Assembleia de Deus Madureira também é um indício de que mesmo as correntes mais conservadoras, pentecostais, são susceptíveis à dinâmica mundial, motivada por políticas de inclusão da mulher. São casos diferentes, mas que refletem uma tendência mundial.
Aos poucos as religiões irão se adaptar à sociedade, seja por força do Estado, por estatísticas sociais, ou mesmo por reinterpretações de sua doutrina ou filosofia. A Igreja Católica é um exemplo de que deverá, de fato, ceder as políticas internacionais relacionadas à legalização do aborto, do casamento ou união homoafetiva. Mesmo às religiões mais fechadas, dogmáticas, passam por um processo de adaptação, de mudança. O desmantelamento das repúblicas islâmicas, a aproximação de algumas com os EUA, a ocidentalização do Oriente e mesmo as divergências doutrinárias características das correntes islâmicas, seguem uma tendência universal de mudança, que resultará em readaptação e em uma maior abertura ao Ocidente. No extremo oriente, a Coreia do Sul e o Japão são outros exemplos de ocidentalização, nos costumes e também na religião.



Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e colaborador do Genizah 

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